quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Invenção dos Transtornos Mentais: O caso Cartwright




A psiquiatria e seu modelo de categorização dos ditos “transtornos mentais” vem recebendo uma quantidade considerável de críticas ao longo das últimas décadas. O argumento central de seus críticos é o de que a psiquiatria reduz a natureza plural e complexa da subjetividade humana a determinações biológicas vagas e imprecisas. Tais determinações são tomadas como verdades científicas, ocultado assim seu caráter político e ideológico bem como seus equívocos epistemológicos e metodológicos. Com o argumento de promover o tratamento para as “doenças” que inventa, a psiquiatria, com o apoio da indústria farmacêutica, produz a medicalização da sociedade criando assim um contexto de exclusão e estigmatização daqueles que não se encaixam no modelo de normalidade estipulado.

Um caso ilustrativo que demonstra o caráter ideológico, político e moral das concepções médicas sobre comportamento humano é o de Samuel A. Cartwright, médico norte-americano, membro da Louisiana Medical Association. Em 1851 Cartwright fez um diagnóstico para aquilo que considerava um tendência humana patológica para a fuga. A “doença” foi cunhada com o nome de Drapetomania. Na época de Cartwright, o diagnóstico era utilizado para explicar as constantes tentativas de fuga por parte de negros africanos das propriedade em que eram escravizados. Cartwright teve um artigo sobre a Drapetomania publicado no New Orleans Medical and Surgical Journal, onde afirmava que o comportamento de fuga dos escravos era uma doença metal que poderia ser prevenida e tratada com os procedimentos adequados.  A técnica preventiva proposta pelo médico  consistia em dar chicotadas em escravos que pareciam insatisfeitos sem motivos aparentes. Para os casos mais graves, a recomendação era que se efutuasse a amputação dos dedos dos pés.

Claro que muitos poderiam argumentar que se tratava de uma época em que a psiquiatria estava apenas em seu início, que esse tipo de situação era comum e que muita coisa mudou desde então. Certamente a psiquiatria se desenvolveu e reformulou diversas vezes suas concepções. Fato que não nego. Porém, a atitude de enquadrar a subjeitvidade humana nos moldes da ciência empírica sem qualquer tipo de reflexão crítica sobre os problemas teóricos e metodológicos que estão implicados nesse empreendimento, ainda persiste nos dias atuais. A título de exemplo temos a homossexualidade, que foi retirada da lista de “transtornos mentais” na decada de 70, no entanto, desde então, a quantidade de “transtornos mentais” ligados a sexualidade cresceu exponencialmente. 


PODE ISSO, ZIZEK!?



Perdoem os leitores que não falam inglês, mas este vídeo tem que ser postado. Nele o filósofo Slavoj Zizek argumenta que a não ser que pensemos um recomeço radical das instiuições públicas e privadas, e suas inter-relações sócio políticas, nosso futuro poderá estar nas mãos de tecnoburocratas e magnatas corporativos...

Pode isso, Zizek?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mulheres japonesas de Ikenaga Yasunari, por Helena Maziviero




Ikenaga Yasunari é um pintor japonês de 46 anos que utiliza telas de linho para realizar um trabalho fascinante. Ele consegue fazer a difícil junção entre tradição e modernidade através de pinturas envolventes que retratam toda a beleza e sensualidade femininas sem abandonar as milenares técnicas artísticas japonesas.

O que é mais interessante na obra de Ikenaga Yasunari é que ele resgata o estilo artístico das pinturas ancestrais japonesas através de temáticas modernas. Os princípios da estética artística japonesa, como o miyabi (elegância refinada), mono no aware (empatia em relação às coisas) e wabi-sabi (tranqüilidade e simplicidade), estão presentes em todas as suas obras. Mesmo utilizando as técnicas tradicionais da pintura japonesas, Yasunari compõe retratos de mulheres modernas, acrescentando toques sutis de sensualidade.


DIVULGAÇÃO: Grupo vivencial com as psicólogas Ana Inez Carvalho e Vera Lúcia Amaral



 Crescer – Psicologia e Desenvolvimento Humano 
Convida você: 

Grupo Vivencial de Crescimento 

Dê vida aos seus dias e não apenas dias à sua vida! 

12 encontros semanais, de 1h30 
Coordenação de psicólogas especializadas 
Cada encontro terá 
uma parte prática, vivencial, 
e um espaço para reflexão e troca de experiências 


CONTATO – Psicólogas responsáveis: 
Ana Inez Carvalho – 9968-0930 –psi.anainez@gmail.com 
Vera Lúcia Amaral – 9982-2752 – vera.amaral.psi@gmail.com


Alguns temas que serão trabalhados: 

Energia Vital 
Dores e perdas 
Vontades e Atitudes 
Estresse 
Relacionamentos e Casamento 
Ninho vazio (quando os filhos saem de casa) 
Os filhos adultos que não cresceram 
Maturidade / Envelhecimento 
Vida profissional e aposentadoria


Local: SCN Quadra 1 – Ed. Central Park sala 611 (próximo ao Liberty Mall) 
Solicita-se contato prévio para reserva de vaga e harmonização do grupo. 


O nosso objetivo: 

Proporcionar um processo de crescimento e desenvolvimento pessoal diferenciado como base para as transformações que você deseja promover em sua vida. 


O que nós queremos que você leve deste trabalho: 

Uma maior compreensão de seus próprios sentimentos, emoções e reações; 
Uma troca de experiências sobre questões ligadas ao momento de vida de cada um; 
O aprendizado de como conviver melhor consigo e com os outros; 
O desenvolvimento da auto-estima e do valor próprio; 
A busca de novos significados para as questões que trazem desconforto; 
A descoberta de práticas de relaxamento e a tomada de consciência corporal. 
O fortalecimento da vontade de viver com mais qualidade de vida. 



As Coordenadoras Ana Inez Carvalho 
CRP 01/1827 
Psicóloga, com especialização em psicossomática, psico-oncologia e psicologia junguiana 
Vera Lúcia Amaral 
CRP 01/16823 
Psicóloga, com especialização em psicologia junguiana. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Entrevista com Zygmunt Bauman para o Fronteiras do Pensamento




O filósofo, sociólogo e ensaísta polonês Zygmunt Bauman (Poznán, 1925) iniciou sua carreira acadêmica na Universidade de Varsóvia. Em 1968 foi obrigado a abandonar a Universidade e tem seus artigos e livros censurados. Após passar pelo Canadá, Estados Unidos e Austrália, chega à Inglaterra onde assume em 1971 o cargo de professor titular da Universidade de Leeds. Nesta época entrou em contato com o islandês Ji Caze, filósofo que exerceu uma forte influência em seu pensamento. Em 1989 recebeu o prêmio Amalfi, por sua obra “Modernidade e Holocausto” e em 1998 recebeu a premiação Adorno, pelo conjunto de sua obra. Atualmente Bauman é professor emérito de sociologia das Universidades de Leeds e de Varsóvia. Uma boa parte de sua obra já foi traduzida aqui no Brasil. Dentre elas destacam-se: Modernidade e Holocausto, Amor Líquido, Vida Líquida, Vidas Desperdiçadas, entre outras.

Bauman é principalmente conhecido por elaborar e desenvolver a idéia de “Modernidade Líquida”. Na introdução de uma das suas obras mais conhecidas, “Vida Líquida”, descreve de forma pungente os aspectos e processos que constituem o que ele chama de “sociedade líquido-moderna”.

“vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente ligadas. A “vida líquida” é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. “Líquido-moderna” é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e a da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.

Numa sociedade líquido-moderna, as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes porque, em um piscar de olhos, os ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em incapacidades. As condições de ação e as estratégias de reação envelhecem rapidamente e se tornam obsoletas antes de os atores terem uma chance de aprendê-las efetivamente. Por essa razão, aprender com a experiência a fim de se basear em estratégias e movimentos táticos empregados com sucesso no passado é pouco recomendável: testes anteriores não podem dar conta das rápidas e quase sempre imprevistas (talvez imprevisíveis) mudanças de circunstâncias. Prever tendências futuras a partir de eventos passados torna-se cada dia mais arriscado e, freqüentemente, enganoso. É cada vez mais difícil fazer cálculos exatos, uma vez que os prognósticos seguros são inimagináveis: a maioria das variáveis das equações (se não todas) é desconhecida, e nenhuma estimativa de suas possíveis tendências pode ser considerada plena e verdadeiramente confiável.

Em suma: a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante. As preocupações mais intensas e obstinadas que assombram esse tipo de vida são os temores de ser pego tirando uma soneca, não conseguir acompanhar a rapidez dos eventos, ficar para trás, deixar passar as datas de vencimento, ficar sobrecarregado de bens agora indesejáveis, perder o momento que pede mudança e mudar de rumo antes de tomar um caminho sem volta. A vida líquida é uma sucessão de reinícios, e precisamente por isso é que os finais rápidos e indolores, sem os quais reiniciar seria inimaginável, tendem a ser os momentos mais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes. Entre as artes da vida líquido-moderna e as habilidades necessárias para praticá-las, livrar-se das coisas tem prioridade sobre adquiri-las.

Como diz o cartunista Andy Riley, do Observer, o que aborrece é “ler artigos sobre as maravilhas de se largar tudo, em busca de melhor qualidade de vida, quando ainda nem se alcançou o tudo”. É preciso acelerar o “alcançar”, caso se deseje provar das delícias do “largar”. Preparar o local para o “largar” confere significado ao “alcançar”, que se torna seu principal propósito. É pelo alívio trazido por um “largar” suave e indolor que se julga, em última instância, a qualidade do “alcançar”...

A instrução de que mais necessitam os praticantes da vida líquido-moderna (e que mais lhes é oferecida pelos especialistas nas artes da vida) não é como começar ou abrir, mas como encerrar ou fechar. Outro colunista do Observer, em tom meio irônico, lista as últimas regras para se “chegar ao fim” das parcerias (sem dúvida os episódios mais difíceis de serem “encerrados”, principalmente aqueles que os parceiros desejam e lutam muito para que acabem, os quais provocam, sem surpresa alguma, uma demanda particularmente ampla pela ajuda de especialistas). A lista começa com: “Lembre-se das coisas ruins. Esqueça as boas”; e termina com: “Conheça outra pessoa”, depois de passar por “apague toda a correspondência eletrônica”. Do princípio ao fim, a ênfase recai em esquecer, apagar, desistir e substituir.

Talvez a descrição da vida líquido-moderna como uma série de reinícios seja um cúmplice desavisado de algum tipo de conspiração. Replicar uma ilusão compartilhada ajuda a ocultar seu segredo mais íntimo (vergonhoso, ainda que apenas um resíduo). Talvez, uma forma mais adequada de narrar essa vida seja contara história de sucessivos finais. E talvez a glória de uma vida líquida de sucesso seja mais bem transmitida pela invisibilidade das tumbas que assinalam seu progresso do que pela ostentação das lápides que celebram os conteúdos dessas tumbas.

 Numa sociedade líquido-moderna, a indústria de remoção do lixo assume posições de destaque na economia da vida líquida. A sobrevivência dessa sociedade e o bem-estar de seus membros dependem da rapidez com que os produtos são enviados aos depósitos de lixo e da velocidade e eficiência da remoção dos detritos. Nessa sociedade, nada pode reivindicar isenção à regra universal do descarte, e nada pode ter permissão de se tornar indesejável. A constância, a aderência e a viscosidade das coisas, tanto animadas quanto inanimadas, são os perigos mais sinistros e terminais, as fontes dos temores mais assustadores e os alvos dos ataques mais violentos.

A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. Deve modernizar-se (leia-se: ir em frente despindo-se a cada dia dos atributos que ultrapassaram a data de vencimento e desmantelamento, repelindo as identidades que atualmente estão sendo montadas e assumidas) ou perecer. Cutucada pelo horror da expiração, a vida na sociedade líquido-moderna não precisa mais ser empurrada pelas maravilhas imaginadas no ponto final dos trabalhos modernizantes. A necessidade aqui é de correr com todas as forças para permanecer no mesmo lugar, longe da lata de lixo que constitui o destino dos retardatários.

“Destruição criativa” é a forma como caminha a vida líquida, mas o que esse termo atenua e, silenciosamente, ignora é que aquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, portanto, de forma indireta, os seres humanos que os praticam. A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo. E com a competição se tornando global a corrida agora se dá numa pista também global.
(Bauman, em “Vida Líquida”, 2007)

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Fronteiras do Pensamento é um seminário internacional dirigido ao grande público com alguns dos mais representativos intelectuais da cena mundial contemporânea.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"Ladainha" para 8 violoncelos, por Gustavo Tavares



A sinestesia é uma condição neurológica do cérebro que interpreta de diferentes formas os sinais percebidos pelo nosso sistema sensorial. É uma confusão neurológica que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez. Essa condição não é considerada uma doença mental, e sim uma forma diferente que o cérebro tem de interpretar os sinais. Uma em cada duas mil pessoas têm sinestesia, e essas pessoas podem ver sons, sentir cores ou o paladar das formas.  
A sinestesia é um processo involuntário do cérebro, e sua causa ainda é desconhecida. Acredita-se apenas que ela tenha causa hereditária, seja mais comum em mulheres e em pessoas canhotas. “A sinestesia é comum em algumas famílias, e está relacionada a pelo menos três cromossomos”, diz a psicóloga britânica Julia Simner, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Em 1960, John Locke descreveu pela primeira vez a sinestesia, ao relatar o caso de um cego que percebeu o que era a cor vermelha pelo som de uma trompa. Na medicina, o primeiro caso registrado de sinestesia se deu em 1922 com uma criança de quatro anos de idade.
As associações sinestésicas podem estimular a memória, por isso vários artistas, músicos, escritores, dentre outros, mencionam a sinestesia como um importante componente em seus trabalhos. No século XIX, um artista podia se passar por sinestésico para ficar mais próximo do invulgar, do excêntrico e até da perfeição humana. O artista plástico russo Kandinsky sentia fascínio pelos sinestésicos, e utilizou a sinestesia entre a música e a pintura para inspirar suas obras.
As pesquisas sobre tal assunto tiveram início há poucos anos, por isso não se tem um teste que comprove adequadamente se a pessoa é ou não sinestésica.  O teste mais utilizado atualmente foi desenvolvido pelo professor de psicopatologia do desenvolvimento Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge. O teste, chamado de Teste da Genuidade (TG), mede a estabilidade da relação entre estímulos e respostas ao longo do tempo. Uma sequência de estímulos (cores, sons, odores, palavras) é apresentada ao provável sinestésico, e em seguida suas respostas sensoriais são registradas. Outro teste é feito baseando-se na pesquisa visual. Em um quadro com letras em branco e preto estão “escondidas” outras letras vistas pelo sinestésico como coloridas.
Autora: Paula Louredo

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Sente-se confortavelmente. Relaxe seu corpo com calma e abandono, respire com prazer. Acione a música e feche os olhos. 

Em meu corpo correu um mar de verdes, azuis violetas e roxos, espirais e recuos de onde surgem ondas e espuma de um (rio)mar. Transformação. Ocre aço, laranja terra, terra na boca, pesadas paredes brancas espreitando nuvens de chubo e raios de sol correndo com o vento sobre a terra quente. Volta o rio, volta o mar.

O que correu no seu? 

Pesquisadores da Fiocruz visitarão regiões desbravadas por sanitaristas entre os anos de 1911 a 1913, por Marcelo Remígio




Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) vão refazer os passos dos médicos Carlos Chagas, Arthur Neiva e Belisário Penna, que, entre os anos de 1911 e 1913, promoveram expedições científicas pelos sertões do Brasil. Se, no início do século passado, os sanitaristas identificaram o total abandono das áreas rurais, a ausência da atuação dos governos e um grave quadro de doenças endêmicas, agora as equipes do IOC, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), voltarão aos locais para mostrar que a pobreza ainda é um problema persistente.


As expedições acontecerão a partir da metade deste ano, com previsão de término em 2014. A ação piloto foi promovida no fim de janeiro em Paudalho, cidade de Pernambuco com 51 mil habitantes, distante 37 quilômetros de Recife. O município, que recebeu a visita dos sanitaristas há cem anos, ainda luta contra doenças vinculadas à pobreza, como esquistossomose, tuberculose e as provocadas por vermes. As expedições estarão integradas às ações do programa do governo federal Brasil Sem Miséria.


Os registros fotográficos e os documentos produzidos pelo trabalho de Chagas, Neiva e Penna mostraram, na época, um Brasil até então desconhecido para a grande maioria da população urbana, concentrada no litoral.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz Jaime Benchimol, as expedições dos médicos acabaram com a "fantasia" de que as cidades litorâneas eram insalubres, enquanto o campo oferecia qualidade de vida.


- Até então, as política públicas para a Saúde estavam voltadas para as epidemias que aconteciam nas cidades e, com as expedições, descobriram as doenças endêmicas do campo, a maioria relacionada à pobreza.
Foi nesse período que surgiram o Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, que mostrou como vivia o homem do campo, e a defesa do saneamento básico também para o campo.


Na época, foi realizado um mapeamento da fauna e da flora brasileiras e de relatos de como vivia a população.
O trabalho dos sanitaristas também forçou a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública.
Historiadores afirmam que, com as expedições, ainda foi possível acelerar a ocupação do interior brasileiro.
Os sanitaristas percorreram mais de sete mil quilômetros e visitaram localidades da Bahia, Pernambuco, Piauí e Goiás.


Diretora do IOC e coordenadora das novas expedições, a médica Tânia Araújo Jorge explica que as viagens serão feitas em três etapas. Na primeira, prevista para a metade deste ano, as equipes da Fiocruz passarão pelas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Segundo a médica, os estados nordestinos reúnem 59% do público alvo do Brasil Sem Miséria. Durante essa fase, as pesquisas e o trabalho com a população vão se concentrar em cidades de Pernambuco.


Já no Sudeste, os grupos promoverão idas ao Vale do Jequitinhonha, região de Minas Gerais com bolsões de pobreza, e ao complexo de favelas de Manguinhos, no Rio de Janeiro.


No Centro-Oeste, serão visitadas áreas do Distrito Federal. Bahia, Ceará, Piauí e estados que integram a Amazônia farão parte das segunda e terceira etapas.


- Começamos o trabalho piloto em Paudalho por ter sido a primeira cidade a protocolar propostas ao programa Brasil Sem Miséria. Por outro lado, identificamos problemas crônicos, como falta de saneamento e doenças negligenciadas. Nossa equipe é multidisciplinar, e a ideia é promover atividades integradas e parcerias com os gestores e governos locais — explica a pesquisadora fluminense.


Com 51,6% das famílias vivendo com até dois salários mínimos, Paudalho pretende erradicar doenças ligadas à pobreza até 2015. A cidade é conhecida em Pernambuco pela forte atuação de movimentos que defendem a reforma agrária.


Ao ser indagada se muita coisa mudou 100 anos após as expedições científicas de Chagas, Neiva e Penna, Tânia Araújo Jorge diz que o trabalho de erradicação da pobreza avançou, mas ainda existem 16,2 milhões de pessoas nessa situação.


- Um mapeamento foi realizado no início do século passado. Hoje, o diagnóstico já está feito, mas as expedições têm como meta acelerar ações de combate à pobreza, que devem ser integradas a questões como renda e educação - detalha.


As expedições reunirão pesquisadores da Fiocruz das unidades do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal, e outros que atuam em parceria com universidades federais e estaduais.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O que é menos pior: ser visto como um clichê ou ser ignorado? Como os outros não nos veem – e como nós não vemos os outros de nós. Uma reflexão sobre o Brasil, a literatura e o poder. Texto por ELIANE BRUM




A alemã Anja Saile é agente literária de autores de língua portuguesa há mais de uma década. Não é um trabalho muito fácil. Com vários brasileiros no catálogo, ela depara-se com frequência com a mesma resposta de editores europeus, variando apenas na forma. O discurso da negativa poderia ser resumido nesta frase: “O livro é bom, mas não é suficientemente brasileiro”. O que seria “suficientemente brasileiro”?

Anja (pronuncia-se “Ânia”) aprendeu a falar a língua durante os anos em que viveu em Portugal (e é impressionante como fala bem e escreve com correção). Quando vem ao Brasil, acaba caminhando demais porque o tamanho de São Paulo sempre a surpreende e ela suspira de saudades da bicicleta que a espera em Berlim. Anja assim interpreta a demanda: “O Brasil é interessante quando corresponde aos clichês europeus. É a Europa que define como a cultura dos outros países deve ser para ser interessante para ela. É muito irritante. As editoras europeias nunca teriam essas exigências em relação aos autores americanos, nunca”.

Anja refere-se ao fato de que os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador – já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira”. Como se sabe, não estamos sós nessa xaropada. O desabafo de Anja, que nos vê de fora e de dentro, ao mesmo tempo, me remeteu a uma intervenção sobre a língua feita pelo escritor moçambicano Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia. Ele disse:

- A África tem sido sujeita a sucessivos processos de essencialização e folclorização, e muito daquilo que se proclama como autenticamente africano resulta de invenções feitas fora do continente. Os escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pedia-se que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como sua verdadeira etnicidade. Os jovens autores africanos estão se libertando da “africanidade”. Eles são o que são sem que se necessite de proclamação. Os escritores africanos desejam ser tão universais como qualquer outro escritor do mundo. (...) Há tantas Áfricas quanto escritores, e todos eles estão reinventando continentes dentro de si mesmos.

Esta conferência de Mia Couto faz parte de um livro de ensaios belíssimo chamado “E se Obama fosse africano?” (Companhia das Letras). Indico com vários pontos de exclamação. Os ensaios de Mia Couto são tão inspiradores quanto seus romances. E o que ele diz sobre a África talvez pudesse ser dito sobre o Brasil, este país que é também um continente. E sobre todo um pedaço do planeta do qual se espera que seja de uma determinada forma.

Se ler um livro é ousar se abrir para o outro, exigir que o outro seja como você o imagina é o avesso da experiência literária. Se os editores europeus esperam que sejamos os outros que querem que sejamos, já não somos os outros, mas o estrangeiro domesticado que mora dentro deles. E assim, com um estrangeiro de estimação habitando o seu imaginário, já não precisam nos estranhar. E com isso perdemos todos. Os leitores europeus – que como nós nada têm de homogêneo e contêm tantas diferenças quanto possível – porque abrem mão de estranhar. E nós porque perdemos a chance sempre rica de que nos estranhem.

Nos Estados Unidos, apenas 3% de todas as obras publicadas foram escritas em outras línguas que não o inglês. Esta ínfima parcela abarca todos os outros idiomas e todos os gêneros, de livros técnicos à ficção. Se formos pensar apenas em literatura e poesia, o porcentual baixa para 0,7%. Não sei se existem estatísticas sobre qual é a fatia da língua portuguesa neste quase nada, mas parece evidente que é insignificante. Na tentativa de reverter o que chama de “shame” (vergonha), a Universidade de Rochester criou, em 2007, um site chamado Three Percent , para debater e divulgar todos esses universos literários que têm quase tanta dificuldade de ultrapassar as fronteiras dos Estados Unidos quanto os imigrantes ilegais. E, mesmo quando superam as barreiras, pouco ou nenhum espaço encontram na imprensa americana.

Uma língua não é apenas um amontoado de palavras que serve para se comunicar, mas um jeito de ser e de estar, de compreender o mundo e a si mesmo, o fora e o dentro. Em cada língua há um universo inteiro, e cada falante a recria a partir de sua experiência. É por isso que a língua é viva e mutante. Se o português falado no Brasil tivesse permanecido o mesmo de cem anos atrás é porque já estaríamos todos mortos. Como disse Fernando Pessoa, nós não habitamos um país, mas uma língua. E aqueles que são os últimos falantes de uma língua morta, porque para ser viva é preciso de um outro que também more nela, tem de renascer em outro idioma para que a vida seja possível. Ninguém vive para além das fronteiras da linguagem.

Saber que apenas 3% dos livros publicados nasceram em imaginários outros diz mais dos Estados Unidos do que de todos aqueles que não são vistos por eles. Na grande potência mundial – ainda que em crise – não se trata apenas de uma exigência de estereótipos, como na Europa, já que não há nem mesmo o interesse pelo clichê do outro. No caso dos Estados Unidos, não é necessário fingir estranhamento, já que parecem desconhecer que estranhar é preciso. A experiência de se abrir para a experiência do outro é ignorada. Ignorada como um não saber que há algo ali que vale a pena. Mesmo que faça todo o sentido por qualquer ângulo que se olhe, de Hollywood à política externa americana, ainda assim me parece espantoso que a língua que se impõe sobre o mundo seja também aquela que é fechada para o mundo de (quase) todos os outros. E isso, com certeza, explica muita coisa.

Não saberia dizer o que é menos pior: se a exigência de um clichê de Brasil também na literatura – o “suficientemente brasileiro” com que Anja Saile se depara no contato com os editores europeus – ou a indiferença até mesmo pelo clichê. Acho que a segunda realidade é mais nefasta, porque ao buscar o outro, ainda que seja pelo lugar comum, existe ao menos o risco de encontrar algo que subverta as expectativas e vire os mundos de ponta-cabeça.

E aqui, mais um pouco de Mia Couto:

- O mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de contadores de histórias. (...) O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. Os autores africanos que não escrevem em inglês – e em especial os que escrevem em língua portuguesa – moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.

Quem já viajou à Europa e aos Estados Unidos sabe que é quase impossível encontrar um guia de cidade, museu ou local histórico em português. É preciso se virar com o espanhol, se não souber inglês. No final de 2011, a imprensa deu destaque ao fato de que os brasileiros gastam o dobro do que os outros turistas em Nova York, e muitas lojas já mantêm um vendedor que fala português para facilitar a venda a clientes tão promissores. A economia está colocando a nossa língua pelo menos na boca de garçons e balconistas pelos circuitos turísticos do mundo rico em tempos de crise.

Será que o lugar de potência emergente conquistado pelo Brasil vai aumentar o interesse pela nossa literatura ou pelo nosso modo de ser? A nova posição do país no cenário internacional já começa a produzir novos clichês não só do mundo sobre o Brasil – mas do Brasil sobre si mesmo. O marketing e a propaganda estão aí para provar como se transforma imagem em verdade. Acredito que o estudo dos novos clichês que estão sendo produzidos fora e dentro do Brasil, sobre o Brasil, seja um caminho bem fascinante para compreendermos o momento vivido.

Isso me faz virar o olhar pelo avesso para que possamos enxergar melhor. Como qualquer um sabe, não somos apenas um Brasil, mas muitos. Só de Amazônias temos dezenas, talvez centenas e até milhares. Não há um semiárido, mas uma profusão deles. Assim como são muitos e diversos os Rios de Janeiro e é necessário mais de uma vida para alcançar todas as São Paulo só para descobrir que elas mudaram. Me parece que o Brasil se mantém unido pela sua diversidade – e pela forma de olhar para a sua diversidade. Neste percurso, a música foi bem mais importante do que a literatura.

Me preocupa, porém, a forma com que temos olhado para os outros de nós em um momento com tantas decisões em curso. Em geral, a partir do próprio umbigo e com as fronteiras eletrificadas. Uma parte significativa do que chamamos de brasileiros parece misturar o olhar europeu e o olhar americano, aqui explicitados pela literatura, ao se relacionar com tudo o que compreendemos como o outro. Sejam os miseráveis do Bolsa Família, classificados por uma categoria de renda que anularia suas diferenças; sejam os índios, que são vistos como se fossem todos iguais e, em geral, como um “entrave ao progresso”.

Talvez os indígenas sejam a melhor forma de ilustrar essa miopia, forjada às vezes por ignorância, em outras por interesses econômicos localizados em suas terras. Parte da população e, o que é mais chocante, dos governantes, espera que os indígenas – todos eles – se comportem como aquilo que acredita ser um índio. Portanto, com todos os clichês do gênero. Neste caso, para muitos os índios não seriam “suficientemente índios” para merecer um lugar e para serem escutados como alguém que tem algo a dizer.

Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si.

O modelo de desenvolvimento com que vamos alcançar o futuro depende de como olhamos para os outros de nós e de que lugar ocuparão os outros de nós. Se não acolhermos a diversidade e a usarmos para sermos um Brasil mais igualitário – onde todos sejam igualmente diferentes – não acredito que exista muito futuro para nós, mesmo que o presente pareça promissor. O “Milagre Econômico” da ditadura militar também parecia muito promissor à parcela da sociedade brasileira que dele se beneficiou – e sabemos muito bem como isso terminou.

Para sermos grandes – com um conceito de grandeza que não se mede apenas em cifras – será vital inaugurarmos um jeito de olhar diferente tanto para o nosso próprio continente – onde começamos a nos impor como uma espécie de “Estados Unidos da América do Sul”, como ouço com tristeza cada vez que coloco os pés nos países vizinhos – como na forma como olhamos para dentro de nossas fronteiras. Inaugurar não um olhar condescendente – mas um olhar de quem sabe que tem algo a aprender com o outro.

O que seremos, me parece, será definido pela resposta que daremos a três impasses:

1) Se vamos conseguir construir um modelo de desenvolvimento baseado no século XXI – e não no século XX, como me parece que é o atual;

2) Se vamos acolher os conflitos e dialogar com as culturas dos vários Brasis que nos compõem ou vamos exterminá-los à força, ainda que seja pela força da manipulação da lei;

3) Se vamos conseguir vencer o desafio da educação, mas não só isso: se a inclusão pela escrita será capaz de abarcar a riqueza da nossa oralidade em lugar de silenciá-la.

O que o Brasil será vai depender da sua capacidade – ou não – de incluir todos os outros de si.

No desafio que nos espera, é preciso lembrar que nós não temos língua – somos língua.

Como disse Mia Couto, de forma magistral, na conferência já citada:

- O que advogo é um homem plural, munido de um idioma plural. Ao lado de uma língua que nos faça ser mundo, deve coexistir uma outra que nos faça sair do mundo. De um lado, um idioma que nos crie raiz e lugar. De outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem.

Para “ser asa e viagem” é preciso acolher todos os outros de si. Não tolerar o outro, mas ser o outro.

Veremos.



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ferramentas contra o plágio



Evite o plágio. De graça.

Utilizar textos alheios (sem citar a fonte) em trabalhos escolares, teses ou qualquer tipo de redação é considerado plágio, uma prática ilegal. E cada vez mais fácil de ser identificada. Uma das mais recentes ferramentas criadas para detectar o plágio é o Plagiarisma - um verificador online e buscador de conteúdo duplicado, que permite a inserção de até 5 mil caracteres por busca. O Plagiarisma pode ser utilizado de graça. É preciso apenas fazer um cadastro online. A ferramenta verifica plágio em 190 idiomas e consegue ler arquivos nos formatos txt, html, rtf, doc, docx, odt e pdf.

Existe também o farejador http://www.farejadordeplagio.com.br/ desenvolvido por Maximiliano Pezzin e registrado pela UNIVALI.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

URGENTE: EDITAIS ABERTOS!




- Conexão vivo Movida 2012, inscrições até 24 de fevereiro;

- Fundo Brasil de Direitos Humanos, inscrições até 27 de fevereiro;

- Prêmio Agente Jovem de Cultura, inscrições até 29 de fevereiro;

13º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), inscrições até 29 de fevereiro;

- 3º Cinefoot - Festival de Cinema de Futebol, inscrições até 1º de março;



- Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural, para viagens entre Abril e Maio, inscrições até 12 de março;


- I Curta Teleimage de Roteiros, inscrições até 15 de março;

- Edital BNDES de Cinema 2011/2012, inscrições até 15 de março;

3ª DocBrazil Festival, inscrições 15 de março;

Editais para ocupação das salas musicais da Funarte, inscrições até 15 de março;


Prêmio Funarte Centenário de Luiz Gonzaga, inscrições até 19 de março;


- Feira da Música 2012, inscrições até 20 de março;

- Festival Anima Mundi 2012, inscrições até 22 de março;

até 30 de março;



- Concurso Vídeo Minuto, inscrições até 31 de março;



- Conversaciones / Programa Ibermuseus, inscrições até 20 de abril;