quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ter e Ser: análise do Fast Fashion




“Eu posso.”

Civilizações ruíram ao som dessas palavras; vagabundos iluminados em Haight Ashbury revolucionaram o amor; o sujeito do seu lado do ônibus acabou de botar o funk no celular a todo volume. Vontade. Volição. Querer, e querendo, se reafirmar, Ser. Sendo. Ou seja: quando quero, sou - e quero ser o melhor possível com aquilo que tenho ou posso vir a ter. Já.


É nesse mundo do querer em que vivemos. Onde nossos desejos, tão íntimos e privados se tornam expressão material da nossa identidade. Exemplo? “Ai pódi”, um trocadilho que leva em si o desejo de status, a reafirmação da participação em uma comunidade de consumidores que prezam certos conceitos estéticos, tecnológicos e sociais do indefectível smartphone. Fundamentalmente, a idéia é identificar-se com um conjunto de pessoas que possuem tanto capital financeiro, quanto social e cultural. Isso é bom, não é? Ser identificado como parte de um grupo social influente, conectado e, em alguns casos a característica mais desejada, de vanguarda. E indo além, no nosso mundo ocidental democrático, todos deveríamos poder nos identificar com o que há de melhor na nossa sociedade.

“Yes we can” diz a América do Norte, cuja principal matéria prima exportada é a democracia liberal. Todos podemos! Para firmar essa idéia, essa tendência, nada melhor do que mostrá-la visualmente, sobre nossos corpos, identificados com os indicadores do que há melhor. Essa expressão  de valor se materializa em um artefato: Roupa. Nisso se baseia a proposta da fast fashion em um mundo sistematicamente mais conectado, com classes sociais B e C (e mesmo D!) que desejam se tornar consumidoras dos símbolos do sucesso, seus desejos agora educados, reinterpretados e incensados pelos ditames estéticos veiculados pela mídia. Em outras palavras, foi dada a uma parcela significativa da sociedade global, que antes vivia num exílio sócio-estético, acesso à haute-couture exposta na novela da noite anterior, no fashion week local, em um corpomodelo – perdoem a licença poética – de um(a) estrela da constelação Mídia.

O consenso é de que todos preferimos ser uma metáfora ambulante, como cantaria nosso lisérgico lirismo. Dito isso, percebemos que, para permanecer nesse movimento contínuo de símbolos estéticos que revelam nossos interiores em eterno movimento - nossas preciosas subjetividades -, buscamos referenciais de comportamento onde as opiniões são feitas e os padrões construídos: neste caso, os expoentes consagrados da indústria da moda.

“Quando quero, sou – e quero ser o melhor possível com aquilo que tenho ou posso vir a ter”. Essa é a centelha e movimento do desejo, o marketing materializando e acudindo esse anseio, criando designs os mais próximos o possível dos modelos nas passarelas, a baixo preço e com alta obsolescência. Características fundamentais que fazem parte do mundo dos habitantes do hiper tempo e hiper espaço, nós, que vivemos universos em segundos e espaços vários entre telas LED e realidade física. “Imediato” essa é a palavra chave dessa nossa hipermodernidade e o espaço de tempo que estamos dispostos a esperar pelos seus frutos. Quero ser agora, C&A e Riachuelo com Stella MacCartney e Metsavaht suprindo meus anseios, não quero mais me frustar com um segundo sequer de “despertencimento”. Quero ser!

Porém, permanece a pergunta: posso ser tudo o quero ser, agora. No entanto, o que sou?



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