“Eu posso.”
Civilizações ruíram ao som dessas palavras;
vagabundos iluminados em Haight Ashbury revolucionaram o amor; o sujeito do seu
lado do ônibus acabou de botar o funk no celular a todo volume. Vontade.
Volição. Querer, e querendo, se reafirmar, Ser. Sendo. Ou seja: quando quero,
sou - e quero ser o melhor possível com aquilo que tenho ou posso vir a ter.
Já.
É nesse mundo do querer em que vivemos. Onde
nossos desejos, tão íntimos e privados se tornam expressão material da nossa
identidade. Exemplo? “Ai pódi”, um trocadilho que leva em si o desejo de
status, a reafirmação da participação em uma comunidade de consumidores que
prezam certos conceitos estéticos, tecnológicos e sociais do indefectível smartphone. Fundamentalmente, a idéia é
identificar-se com um conjunto de pessoas que possuem tanto capital financeiro,
quanto social e cultural. Isso é bom, não é? Ser identificado como parte de um
grupo social influente, conectado e, em alguns casos a característica mais
desejada, de vanguarda. E indo além, no nosso mundo ocidental democrático,
todos deveríamos poder nos identificar com o que há de melhor na nossa
sociedade.
“Yes we can” diz a América do Norte, cuja
principal matéria prima exportada é a democracia liberal. Todos podemos! Para
firmar essa idéia, essa tendência, nada melhor do que mostrá-la visualmente,
sobre nossos corpos, identificados com os indicadores do que há melhor. Essa
expressão de valor se materializa
em um artefato: Roupa. Nisso se baseia a proposta da fast fashion em um mundo sistematicamente mais conectado, com
classes sociais B e C (e mesmo D!) que desejam se tornar consumidoras dos
símbolos do sucesso, seus desejos agora educados, reinterpretados e incensados
pelos ditames estéticos veiculados pela mídia. Em outras palavras, foi dada a
uma parcela significativa da sociedade global, que antes vivia num exílio
sócio-estético, acesso à haute-couture
exposta na novela da noite anterior, no fashion week local, em um corpomodelo – perdoem a licença poética
– de um(a) estrela da constelação Mídia.
O consenso é de que todos preferimos ser uma
metáfora ambulante, como cantaria nosso lisérgico lirismo. Dito isso,
percebemos que, para permanecer nesse movimento contínuo de símbolos estéticos
que revelam nossos interiores em eterno movimento - nossas preciosas
subjetividades -, buscamos referenciais de comportamento onde as opiniões são
feitas e os padrões construídos: neste caso, os expoentes consagrados da
indústria da moda.
“Quando quero, sou – e quero ser o melhor
possível com aquilo que tenho ou posso vir a ter”. Essa é a centelha e movimento
do desejo, o marketing materializando e acudindo esse anseio, criando designs
os mais próximos o possível dos
modelos nas passarelas, a baixo preço e com alta obsolescência. Características
fundamentais que fazem parte do mundo dos habitantes do hiper tempo e hiper
espaço, nós, que vivemos universos em segundos e espaços vários entre telas LED
e realidade física. “Imediato” essa é a palavra chave dessa nossa
hipermodernidade e o espaço de tempo que estamos dispostos a esperar pelos seus
frutos. Quero ser agora, C&A e Riachuelo com Stella MacCartney e Metsavaht
suprindo meus anseios, não quero mais me frustar com um segundo sequer de
“despertencimento”. Quero ser!
Porém, permanece a pergunta: posso ser tudo o
quero ser, agora. No entanto, o que sou?
I like!
ResponderExcluir- B.L.