segunda-feira, 4 de março de 2013

Articulações entre a psicologia clínica, ontologia e as artes de si: proposta para o estabelecimento da maiêutica ontológica como modalidade do cuidado de si. (Pedro Luna Nogueira)





RESUMO



O presente artigo é uma proposta de articulação entre um conceito e três tecnologias ou práticas, respectivamente a ontologia de Heidegger, os cuidados de si propostos por Foucault, a psicologia clínica e a maiêutica ontológica desenvolvida pelo autor deste artigo. Será empreendida uma análise na qual se irá demonstrar que a psicologia clínica, como tecnologia de assujeitamento, ao ser reinterpretada pela genealogia proposta por Foucault, apresenta-se como um discurso científico que tolhe a liberdade e a compreensão de si – do paciente ou Outro – que busca o processo terapêutico proposto pelos projetos de psicologia clínica. O autor, então, propõe a maiêutica ontológica como modalidade do cuidado de si, que, aliada a determinados conceitos propostos por Heidegger, como a ontologia, cuidado e ser-aí-no-mundo, pode vir a configurar-se como uma possibilidade de fuga do pensamento disjuntivo que subjaz à intervenção clínica.


Se nos permitimos, com todas as salvaguardas de uma observação geral, porém crítica, fazer uma apreciação acerca de um dos motivos recorrentes do pensamento ocidental, perceberemos, e isto não é novidade, que uma certa circularidade o permeia desde seus seletivos primórdios helênicos.

De fato, nossa épistémè - ainda conservamos a palavra grega, em seu sentido Aristotélico, quando queremos nos referir a um conhecimento verificável, justificável, oposto a doxa ou conhecimento comum - continua a fazer-se nos movimentos entre paradigmas[1] fundados sobre a dualidade, o encontro de opostos, sua exclusão ou redefinição; a implosão/redução em singularidade ou explosão em complexidade do conhecimento. Disso temos nos ocupado há um par de milênios, já que estes três motivos permeiam, como dito, a construção, estabelecimento e descarte do 
conhecimento uma vez, ou ainda, justificável e verificável.

Ambos os últimos adjetivos nos levam a fazer a inescapável indagação sobre que métodos ratificam a inscrição de determinados conhecimentos no texto da verdade. Foucault irá subsidiar essa pergunta ao repensar e recontextualizar dois conceitos. O primeiro é a épistémè, que irá se referir às estruturas organizadas inconscientemente que subjazem a produção de conhecimento em uma determinada época ou lugar e que definem o que é certo e real. Sobre essas estruturas inconscientes, que podem se dar em qualquer número e a qualquer tempo, se organizarão determinados discursos, disciplinas e poderes. O segundo é a techné, que, num primeiro momento (A Ordem do Discurso, 2002) de sua obra, irá se referir a uma atividade de obtenção de conhecimento exato, variável e dependente da realidade substancial, exemplo sendo as ciências exatas; e num segundo momento, Foucault verá a techné como um conjunto de práticas conscientes de investigação e cuidado de si, que uma vez aplicadas sobre si, ao nos aproximar de nossa verdade, poderão nos levar a uma vida ética. Ambas serão retomadas no decorrer do texto.

O que nos interessa neste instante é a conceituação Aristotélica de techné[2], já que essa será o sustentáculo do pensamento científico ocidental, que, apoiado sobre a experimentação metódica e sistemática, subsidiará a inscrição de determinados conhecimentos como verdade. Portanto podemos inferir que cada disciplina[3], ou formação discursiva científica, se constrói sobre e possui sua prática e método de techné ou se aproxima, ou se apropria, da prática e método de outra disciplina para determinar aquilo que é, ou não é verdadeiro, válido ou aceitável.

Ao relembrar a releitura de Foucault de ambos os conceitos podemos então dizer que apesar de estarem relacionados, ambos são essencialmente diferentes: onde o primeiro se refere a um conhecimento  sobre o mundo como conjunto dinâmico de discursos, disciplinas e dispositivos, o segundo é um conhecimento prático, engajado que busca produzir e sedimentar algo numa realidade substancial. 

É dentro dessas premissas e movimentos tanto da épsitémè quanto da techné que a psicologia clínica se encontra. Disciplina filha da Revolução Industrial, tem como herança o paradigma científico positivista[4] do qual só se livrou, em alguma medida, nos últimos cinquenta anos. Exemplos dessa afirmação são as novas variações e reformulações da psicologia clínica que tem sido apresentadas desde os anos 1960 - quando começou o movimento do pós-estruturalismo e pós-modernismo - ao estabelecer diálogos com o construcionismo social, o construtivismo, a teoria de sistemas e a teoria histórico-cultural (Gonzáles Rey, 2009, p. 220 a 261).

Esses encontros tem sido fundamentais para questionar os paradigmas positivistas científicos e as técnicas, ou dispositivos de poder, sobre as quais a psicologia clínica se ergueu. No entanto se retomarmos o conceito de épistémè reformulado por Foucault, veremos que esta é uma prática com dispositivos que, apesar dos seus novos e constantes diálogos com outras áreas do conhecimento que se propõem a rever a genealogia de suas construções de sentido como ciência,  ainda está inserida no regime disciplinar de uma ciência positiva.

Um dos problemas dessa inserção é o fato de que a techné, como possibilidade de construção da experiência, tem se imposto ao mundo sustentada pelos métodos de produção capitalista-mercantil que em sua origem – revolução industrial - e desenrolar são responsáveis pelo modo de pensamento técnico-calculante observado por Heidegger (2008). Este preconiza que  tal pensamento nos faz “(...) desvelar a natureza como dis-ponibilidade (Bestand): tudo se encontra disponível para ser extraído, transformado, estocado, utilizado, consumido. Todas as coisas, inclusive o próprio homem, são dispostas para serem colocadas à serviço da pretensão e de domínio e controle humano” (Sá e Rodrigues, 2008, p. 38). Essa dis-ponibilidade encontra-se nas práticas da psicologia clínica a partir do instante em que nos propomos a fazer ciência sem examinar as premissas epistêmicas e discursivas que subjazem em nossas intervenções.

Outro problema que se apresenta ao limitarmos a psicologia clínica a uma formação discursiva científica é patologia do saber como definida por E. Morin. O autor começa por problematizar a organização do conhecimento ao expor como este opera sua seleção de dados significativos e não significativos. Três operações são utilizadas: a separação (que distingue ou desjunta) e união (associa ou identifica); a hierarquização (que separa em principal ou secundário); a centralização (que os organiza em função de um núcleo de funções chave). Ao identificar estas três operações que são comandadas pela lógica, Morin, em conformidade tanto com T. Khun quanto com Foucault, procede a dizer que na realidade todas são de fato comandadas por princípios supralógicos de organização do pensamento, ou seja paradigmas ou épistémai.

A inconveniência da organização do conhecimento de tal forma, é que este resulta em uma visão unidimensional e abstrata que mutila o conhecimento e desfigura o real. Assim sendo, Morin apresenta nossa presente produção de conhecimento como estando sob a égide dos princípios de disjunção, de redução e de abstração, conjunto ao qual chama de paradigma da simplificação. O autor remonta este paradigma essencial do Ocidente a Descartes, que separou o sujeito pensante (ego cogitans) e a coisa entendida (res extensa). Esse paradigma veio a distanciar filosofia e ciência com o passar do tempo, estabelecendo-as como disciplinas com discursos próprios e diferenciados, e colocando como princípio da verdade as idéias claras e distintas, ou seja, o pensamento disjuntivo inerente às formações discursivas científicas.      

Portanto, a falha do pensamento disjuntivo que é a base da produção de conhecimento da psicologia clínica inscrita como formação discursiva científica, é de que tal disjunção irá rarear as comunicações entre o conhecimento científico e a reflexão filosófica, levando a ciência – e a psicologia clínica – a privar-se da possibilidade de conhecer a si mesma, de refletir sobre si mesma, e até de se conceber cientificamente. O resultado disso pode vir a ser, e é em alguma boa medida, o fato de que:

“Os problemas humanos são entregues não só a este obscurantismo científico que produz especialistas ignaros, mas também a doutrinas obtusas que pretendem monopolizar a cientificidade (após o marxismo althusseriano, o econocratismo liberal), as idéias-chaves ainda mais pobres, por sua pretensão de abrir todas as portas (o desejo, a mimese, a desordem, etc.), como se a verdade estivesse fechada num cofre-forte de que bastaria possuir a chave, assim, o ensaísmo não verificado partilha o terreno com o cientismo limitado” (Morin, E. 2011, p. 13).   

Ao nos debruçarmos sobre a afirmação feita por Morin, não temos como não nos colocar nela. Não seríamos nós, os/as psicólogos/as clínicos/as, os/as especialistas ignaros/as? A partir do instante em que não nos permitimos, nem somos levados a fazer uma indagação densa e crítica da genealogia de nossa disciplina, seus dispositivos de poder, práticas discursivas e não discursivas, não estamos em conivência com o reproduzir da obtusidade, do obscurantismo científico, do tolhimento da liberdade como fundamento de ser? E mais além: se não estabelecermos uma busca própria, uma reflexão única, vivida, implacável, ética e ascética do que é ser-aí, ser-no-mundo, ou seja vivermos o que diremos ou não, quem nos dará o direito de interpelar o Ser-aí-no-mundo[5] do Outro?

Para buscar evitar essa herança do Bestand e  a patologia do saber que permeia a prática clínica torna-se necessário, antes de se começar a clinicar, estabelecer uma profunda maiêutica[6] ontológica com a clínica psicológica. Essa maiêutica ocorre quando há um encontro das técnicas do cuidado de si, propostas por Foucault na coletânea de aulas publicadas sob o titulo de A Hermenêutica do Sujeito, com a Ontologia[7] proposta por Heidegger em Ser e Tempo (1989), utilizada para definir o Ser de entidades – seus significados, modificações e derivações - que podem ser estudadas com precisão demonstrativa ao se usar o método fenomenológico[8].

A maiêutica ontológica deve começar ao sermos iniciados e assujeitados, em instituições de ensino superior, à disciplina psicológica, suas práticas discursivas e não discursivas, e ao lembrarmos de que é necessário sempre que essa seja recolocada e concebida dentro de uma genealogia[9]. O conhecimento psicológico não surge da observação e inferência de fenômenos a priori naturais ao organismo, indivíduo ou sujeito. Este resulta da institucionalização de determinadas tecnologias e discursos que se inserem nos atuais regimes de verdade, portanto resultam de um momento sócio-histórico-cultural particular.

Ao não considerar, ou não nos redobrarmos sobre essa historicidade, estaremos nos alienando de uma prática que deveria olhar para o mundo dos entes, neste caso o Outro, em seu constante processo de vir-a-ser – entendido aqui como existindo, ou o existir -. O resultado disso é um pensamento disjuntivo do Ser-aí-no-mundo com se esse fosse a res extensa, um objeto a ser apreendido por um conhecimento inserido no marco do pensamento técnico-calculante. Consequentemente, esse pensamento leva ao distanciamento, assujeitamento técnico e institucionalização do outro que se encontra em busca de uma intervenção clínica baseada no cuidado do Outro e não na objetificação, redução, e conseguinte normatização, do si.

Esse cuidado – Sorge[10] - se refere à possibilidade de vir a se compreender como um Ser-aí-no-mundo que não se encerra em si mesmo, mas que está, desde o início, envolvido num contexto relacional, ou seja que este é ser-com os outros entes, que é co-participe de uma experiência coletiva. Ao vir a se conceber como um Ser-aí-no-mundo e ser-com os outros, o Outro sob cuidado clínico percebe o privilégio de ser essa abertura de sentido e a responsabilidade, que implica numa conseqüência ética, de co-pertencer ao mundo, ou seja, de sempre estar implicado no existir daqueles que o cercam. Esse privilégio e responsabilidade levam-no a tornar-se “aquele que cuida, que vela, como horizonte de aparecimento, para que as coisas possam realizar suas múltiplas possibilidades de ser” (Sá & Rodrigues, 2004, p. 40), ou como disse Heidegger com pesados subtons biográficos católicos, tornar-se o pastor do ser.   

Mas antes que o/a psicólogo/a ou cuidador/a possa oferecer o cuidado que permita ao outro cuidar-se, o/a próprio/a cuidador/a precisa redobrar-se sobre si, em uma autêntica maiêutica ontológica estabelecida consigo, e ir ao encontro de Ser-aí-no-mundo com o objetivo de evitar uma postura opressora de poder no setting clínico e perceber-se como cuidador. Isso pode ser feito através da ascese[11], processo constituinte das tecnologias de si, ou os cuidados de si, como propostos por Foucault.

Ao engajar-se nesse cuidado o/a futuro/a profissional passaria por exercícios espirituais de transformação de si, ou seja:

“práticas reflexivas e voluntárias através das quais os homens não só estabelecem regras de conduta, mas pelas quais buscam transformar-se, transformar-se em seus seres singulares, e fazer de suas vidas uma obra que contém determinados valores estéticos e que vai de encontro a determinados critérios estilísticos” (Foucault, 1992, p. 10-11 - minha tradução).  

Para que essa transformação ocorra, o cuidador/a deve engajar-se em uma série de exercícios de ascese, onde o dizer-verdadeiro se constituirá como maneira de ser do sujeito, ou seja como metafísica da existência – ontologia -, permitindo que esse sujeito se encarregue de conhecer o ser de sua existência, vindo a desvelar seu Ser-aí-no-mundo. 

Como dito anteriormente, o desvelar do Ser-aí-no-mundo e ser-com- os outros, tem como corolário a tomada de uma postura ética. Esta ocorre devido ao fato de que quando nos tornamos nosso Ser-aí-no-mundo, experimentamos a nós mesmos como abertura de possibilidades, o que nos leva a uma ausência de familiaridades e certezas, gerando insegurança e angústia. Assim somos retirados da impessoalidade, o modo de ser em que “tomamos as referências como já dadas, em que somos como se deve ser, sentindo-nos familiarizados e seguros” (Sá & Rodrigues, 2004, p.43).  Ao sermos retirados da impessoalidade percebemos nossa facticidade, em outras palavras, percebemos que estamos em aberto, em jogo no tempo, que não possuímos substrato metafísico algum e que essa abertura cessa somente na morte, quando todas as possibilidades cessam. Essa postura de abertura e facticidade também nos abrirá um novo horizonte para além da perda de referenciais: o poder de nos apropriarmos de nossas possibilidades singulares. A esse poder Heidegger chamará de autenticidade, e esta nos permitirá reconhecer a ilusão e provisoriedade de nossas identificações, permitindo-nos a apropriação de outras possibilidades e a construção de novas identidades, estabelecendo outras formas de lidar com o mundo e com os outros (Sá & Rodrigues, 2004). Isso nos tornará livres para Ser-aí-no-mundo, implicando sermos totalmente responsáveis por como nos faremos nesse mundo.   

Chegar, em uma maiêutica ontológica, à postura de autenticidade pode nos libertar dos  preceitos supralógicos que governam a psicologia clínica. Ao falar de supralógicos nos referimos a todo aquele conjunto de práticas discursivas, não discursivas e assujeitamentos que por trás da suposta objetividade das discursos científicos não é nada mais do que uma coleção de regras e preceitos - que constituem a moral – institucionalizados, portanto históricos e não imanentes.

Assim a maiêutica ontológica, como modalidade de cuidado de si, nos permite ser-com- a clínica para além da psicologia clínica como disciplina. No entanto essa maiêutica deve ser infindável e constante ao longo do tempo, pois o empreender consciente da própria ontologia pode ter um começo, mas jamais terá um fim já que o Ser-aí-no-mundo é estar lançado, é ser possibilidade de desvelamento, é tempo em si; é angústia de se cuidar e permitir ao outro, em seu cuidado, cuidar-se para além do que o regime disciplinar impõe. Por isso que a maiêutica ontológica, como modalidade do cuidado de si, se insere e se enriquece nesta última reflexão sobre as artes de si:  

“Por que agonística? Por que arte da luta? Porque não há descanso nos exercícios de sermos livres. Não podemos descansar, acreditando numa vitória final da liberdade. Assim como não podemos entregar a nenhum outro nossa liberdade: o trabalho que o indivíduo deve exercer sobre si, a ascese necessária, tem a forma de um combate a ser sustentado, de uma vitória a ser conquistada... E, constituindo-se ao mesmo tempo como sujeito de conhecimento verdadeiro e como sujeito de ação ética, este oferece, como correlato de si mesmo, um mundo que é praticado como prova: é preciso liberdade para existir ética: “A liberdade é a condição ontológica da ética”. A “arte de bem viver” na liberdade ética deixa o mundo igualmente mais belo. Objetivo estético da ética: fazer de si uma obra artística, estilizar e embelezar a vida. Não é, pois, isso o que Foucault tentou: devolver as forças às éticas antigas para nos interrogar e interrogar o nosso presente?: “Eis o que tentei reconstituir: a formação e o desenvolvimento de uma prática de si que tem como objetivo constituir a si mesmo como o artesão da beleza de sua própria vida” (Sousa Filho, 2009, p.8)

Em última análise e num registro lírico, qual é então o objetivo da maiêutica ontológica senão nos tornarmos os Bertoldos de Michelangelos[12]?




[1] Paradigma como definido por Thomas Khun, ou seja, um conjunto abrangente de crenças e premissas que resultam em determinadas práticas e numa visão de mundo científica de uma determinada época.
[2] Aristótles concebe a techné como forma de conhecimento que é inerentemente dirigida à ação e é inerentemente produtiva. A techné se dedica a analisar o que deveria ser feito no mundo para aumentar a felicidade humana. As fontes de techné são múltiplas. Elas requerem uma determinada experimentação aplicada ao mundo para que se possa dizer “o que deve ser feito”.  A techné é um modo de saber e agir em si.
[3] Como definida por Foucault, refere-se a um mecanismo de poder que regula o comportamento de indivíduos em um corpo social.
[4] O positivismo limita-se ao conhecimento da experiência imediata, pura, sensível, como já fizera o empirismo. Daí sua pobreza filosófica, mas também o seu maior valor como descrição e análise objetiva da experiência - através da história e da ciência - com respeito ao idealismo, que alterava a experiência, a ciência e a história. Dada essa objetividade da ciência e da história do pensamento positivista, compreende-se porque elas são fecundas no campo prático, técnico, aplicado. A Psicologia Experimental de W. Wundt, geralmente concebida como a primeira sistematização da psicologia como disciplina, se insere nesse regime.
[5] Ser-aí-no-mundo é a tradução do termo Dasein cunhado por Heidegger que é apresentado da seguinte maneira por Sá e Rodrigues (2004): “ Apenas o homem é o ente cujo ser, ou sentido, está sempre em jogo na sua existência. Ao Dasein, Heidegger confere um privilégio, que é exatamente o de ser abertura de sentido, ser-no-mundo, condição de possibilidade para o que é venha à luz. 
[6] Por meio de questões simples, inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias complexas. A maiêutica baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz. A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum - "conhece-te a ti mesmo" - põe o Homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude.
[7] Ontologia compreendida como metafísica da existência que se encarrega de descobrir a constituição do ser da existência. A ontologia se refere então as condições da possibilidade das existências ou ao ser mesmo em sua condição de abertura originária (Heidegger, 1973).
[8] Método fenomenológico como utilizado por Heidegger se refere a uma investigação que busca a essência inerente da aparência. Vale ressaltar que o termo aparência assume duas concepções simetricamente opostas: 1) ato de ocultar a realidade; 2) manifestação ou revelação da mesma realidade. Pelo segundo significado, a aparência é o que manifesta ou revela a própria realidade, de modo que esta encontra na realidade a sua verdade, a sua revelação. Aparência é qualquer coisa de que se tem consciência. Qualquer coisa que apareça à consciência é uma área legítima da investigação filosófica. Além do mais, aparência é uma manifestação da essência daquilo de que é a aparência.
[9] O conceito de genealogia é um desenvolvimento posterior ao conceito de arqueologia. A diferença entre ambos é que “a arqueologia pretende alcançar um modo de descrição (liberado de toda ‘sujeição antropológica’) dos regimes de saber em domínios determinados e segundo um corte histórico relativamente breve; a genealogia tenta, recorrendo à noção de ‘relações de poder’, o que a arqueologia deveria contentar-se em descrever”. Enquanto a arqueologia (Ser-Saber), procurou analisar as gêneses e as transformações dos saberes no campo das ciências humanas, a genealogia (Poder-Saber) procurava analisar o surgimento dos saberes, que se dá a partir de “condições de possibilidade externas aos próprios saberes, ou melhor, que, imanentes a eles – pois não se trata de considerá-los como efeito ou resultante –, os situam como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica”. O que Foucault quer mostrar é que não existem sociedades livres de relações de poder. Os indivíduos são o resultado imediato dessas relações de poder (Danner, F. 2009).
[10] Com o termo Cuidado (Sorge), Heidegger indica o sentimento de cuidado e preocupação que cada um de nós possui com relação a sua própria existência.
[11] Ascese "é o que permite que o dizer-verdadeiro - dizer-verdadeiro endereçado ao sujeito, dizer-verdadeiro que o sujeito endereça também a si mesmo - constitua-se como maneira de ser do sujeito. A áskesis faz do dizer-verdadeiro um modo de ser do sujeito" (Foucault, 2001, p.312).
[12] Bertoldo di Giovanni: (1420 -1491), zelador e curador da coleção de arte de Lorenzo di Médici e professor de escultura de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) proeminente artista do alto renascimento.

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