O presente artigo é uma proposta de articulação entre um conceito e três
tecnologias ou práticas, respectivamente a ontologia de Heidegger, os cuidados
de si propostos por Foucault, a psicologia clínica e a maiêutica ontológica
desenvolvida pelo autor deste artigo. Será empreendida uma análise na qual se irá
demonstrar que a psicologia clínica, como tecnologia de assujeitamento, ao ser
reinterpretada pela genealogia proposta por Foucault, apresenta-se como um
discurso científico que tolhe a liberdade e a compreensão de si – do paciente
ou Outro – que busca o processo terapêutico proposto pelos projetos de
psicologia clínica. O autor, então, propõe a maiêutica ontológica como
modalidade do cuidado de si, que, aliada a determinados conceitos propostos por
Heidegger, como a ontologia, cuidado e ser-aí-no-mundo, pode vir a configurar-se
como uma possibilidade de fuga do pensamento disjuntivo que subjaz à intervenção
clínica.
Se nos permitimos, com todas as
salvaguardas de uma observação geral, porém crítica, fazer uma apreciação
acerca de um dos motivos recorrentes do pensamento ocidental, perceberemos, e
isto não é novidade, que uma certa circularidade o permeia desde seus seletivos
primórdios helênicos.
De fato, nossa épistémè - ainda
conservamos a palavra grega, em seu sentido Aristotélico, quando queremos nos
referir a um conhecimento verificável, justificável, oposto a doxa ou
conhecimento comum - continua a fazer-se nos movimentos entre paradigmas[1]
fundados sobre a dualidade, o encontro de opostos, sua exclusão ou redefinição;
a implosão/redução em singularidade ou explosão em complexidade do conhecimento.
Disso temos nos ocupado há um par de milênios, já que estes três motivos
permeiam, como dito, a construção, estabelecimento e descarte do
conhecimento
uma vez, ou ainda, justificável e verificável.
Ambos os últimos adjetivos nos
levam a fazer a inescapável indagação sobre que métodos ratificam a inscrição
de determinados conhecimentos no texto da verdade. Foucault irá subsidiar essa
pergunta ao repensar e recontextualizar dois conceitos. O primeiro é a épistémè,
que irá se referir às estruturas organizadas inconscientemente que subjazem a produção
de conhecimento em uma determinada época ou lugar e que definem o que é certo e
real. Sobre essas estruturas inconscientes, que podem se dar em qualquer número
e a qualquer tempo, se organizarão determinados discursos, disciplinas e poderes.
O segundo é a techné, que, num primeiro momento (A Ordem do Discurso, 2002) de
sua obra, irá se referir a uma atividade de obtenção de conhecimento exato, variável
e dependente da realidade substancial, exemplo sendo as ciências exatas; e num
segundo momento, Foucault verá a techné como um conjunto de práticas
conscientes de investigação e cuidado de si, que uma vez aplicadas sobre si, ao
nos aproximar de nossa verdade, poderão nos levar a uma vida ética. Ambas serão
retomadas no decorrer do texto.
O que nos interessa neste instante
é a conceituação Aristotélica de techné[2],
já que essa será o sustentáculo do pensamento científico ocidental, que, apoiado
sobre a experimentação metódica e sistemática, subsidiará a inscrição de
determinados conhecimentos como verdade. Portanto podemos inferir que cada disciplina[3],
ou formação discursiva científica, se constrói sobre e possui sua prática e método
de techné ou se aproxima, ou se apropria, da prática e método de outra
disciplina para determinar aquilo que é, ou não é verdadeiro, válido ou aceitável.
Ao relembrar a releitura de
Foucault de ambos os conceitos podemos então dizer que apesar de estarem
relacionados, ambos são essencialmente diferentes: onde o primeiro se refere a
um conhecimento sobre o mundo como
conjunto dinâmico de discursos, disciplinas e dispositivos, o segundo é um
conhecimento prático, engajado que busca produzir e sedimentar algo numa
realidade substancial.
É dentro dessas premissas e
movimentos tanto da épsitémè quanto da techné que a psicologia clínica se
encontra. Disciplina filha da Revolução Industrial, tem como herança o
paradigma científico positivista[4]
do qual só se livrou, em alguma medida, nos últimos cinquenta anos. Exemplos
dessa afirmação são as novas variações e reformulações da psicologia clínica que
tem sido apresentadas desde os anos 1960 - quando começou o movimento do pós-estruturalismo
e pós-modernismo - ao estabelecer diálogos com o construcionismo social, o
construtivismo, a teoria de sistemas e a teoria histórico-cultural (Gonzáles Rey,
2009, p. 220 a 261).
Esses encontros tem sido
fundamentais para questionar os paradigmas positivistas científicos e as técnicas,
ou dispositivos de poder, sobre as quais a psicologia clínica se ergueu. No
entanto se retomarmos o conceito de épistémè reformulado por Foucault, veremos
que esta é uma prática com dispositivos que, apesar dos seus novos e constantes
diálogos com outras áreas do conhecimento que se propõem a rever a genealogia
de suas construções de sentido como ciência, ainda está inserida no regime disciplinar de uma ciência
positiva.
Um dos problemas dessa inserção é
o fato de que a techné, como possibilidade de construção da experiência, tem se
imposto ao mundo sustentada pelos métodos de produção capitalista-mercantil que
em sua origem – revolução industrial - e desenrolar são responsáveis pelo modo
de pensamento técnico-calculante observado por Heidegger (2008). Este preconiza
que tal pensamento nos faz “(...)
desvelar a natureza como dis-ponibilidade (Bestand): tudo se encontra disponível
para ser extraído, transformado, estocado, utilizado, consumido. Todas as
coisas, inclusive o próprio homem, são dispostas para serem colocadas à serviço
da pretensão e de domínio e controle humano” (Sá e Rodrigues, 2008, p. 38). Essa
dis-ponibilidade encontra-se nas práticas da psicologia clínica a partir do
instante em que nos propomos a fazer ciência sem examinar as premissas epistêmicas
e discursivas que subjazem em nossas intervenções.
Outro problema que se apresenta ao
limitarmos a psicologia clínica a uma formação discursiva científica é patologia
do saber como definida por E. Morin. O autor começa por problematizar a
organização do conhecimento ao expor como este opera sua seleção de dados
significativos e não significativos. Três operações são utilizadas: a separação
(que distingue ou desjunta) e união (associa ou identifica); a hierarquização
(que separa em principal ou secundário); a centralização (que os organiza em
função de um núcleo de funções chave). Ao identificar estas três operações que são
comandadas pela lógica, Morin, em conformidade tanto com T. Khun quanto com
Foucault, procede a dizer que na realidade todas são de fato comandadas por
princípios supralógicos de organização do pensamento, ou seja paradigmas ou épistémai.
A inconveniência da organização do
conhecimento de tal forma, é que este resulta em uma visão unidimensional e
abstrata que mutila o conhecimento e desfigura o real. Assim sendo, Morin
apresenta nossa presente produção de conhecimento como estando sob a égide dos
princípios de disjunção, de redução e de abstração, conjunto ao qual chama de paradigma
da simplificação. O autor remonta este paradigma essencial do Ocidente a
Descartes, que separou o sujeito pensante (ego cogitans) e a coisa entendida
(res extensa). Esse paradigma veio a distanciar filosofia e ciência com o
passar do tempo, estabelecendo-as como disciplinas com discursos próprios e
diferenciados, e colocando como princípio da verdade as idéias claras e
distintas, ou seja, o pensamento disjuntivo inerente às formações discursivas
científicas.
Portanto, a falha do pensamento
disjuntivo que é a base da produção de conhecimento da psicologia clínica
inscrita como formação discursiva científica, é de que tal disjunção irá rarear
as comunicações entre o conhecimento científico e a reflexão filosófica,
levando a ciência – e a psicologia clínica – a privar-se da possibilidade de
conhecer a si mesma, de refletir sobre si mesma, e até de se conceber cientificamente.
O resultado disso pode vir a ser, e é em alguma boa medida, o fato de que:
“Os problemas humanos são entregues não só a este obscurantismo científico
que produz especialistas ignaros, mas também a doutrinas obtusas que pretendem
monopolizar a cientificidade (após o marxismo althusseriano, o econocratismo
liberal), as idéias-chaves ainda mais pobres, por sua pretensão de abrir todas
as portas (o desejo, a mimese, a desordem, etc.), como se a verdade estivesse
fechada num cofre-forte de que bastaria possuir a chave, assim, o ensaísmo não
verificado partilha o terreno com o cientismo limitado” (Morin, E. 2011, p.
13).
Ao nos debruçarmos sobre a afirmação
feita por Morin, não temos como não nos colocar nela. Não seríamos nós, os/as
psicólogos/as clínicos/as, os/as especialistas ignaros/as? A partir do instante
em que não nos permitimos, nem somos levados a fazer uma indagação densa e crítica
da genealogia de nossa disciplina, seus dispositivos de poder, práticas
discursivas e não discursivas, não estamos em conivência com o reproduzir da
obtusidade, do obscurantismo científico, do tolhimento da liberdade como
fundamento de ser? E mais além: se não estabelecermos uma busca própria, uma
reflexão única, vivida, implacável, ética e ascética do que é ser-aí,
ser-no-mundo, ou seja vivermos o que diremos ou não, quem nos dará o direito de
interpelar o Ser-aí-no-mundo[5]
do Outro?
Para buscar evitar essa herança do
Bestand e a patologia do saber que
permeia a prática clínica torna-se necessário, antes de se começar a clinicar,
estabelecer uma profunda maiêutica[6]
ontológica com a clínica psicológica. Essa maiêutica ocorre quando há um
encontro das técnicas do cuidado de si, propostas por Foucault na coletânea de
aulas publicadas sob o titulo de A Hermenêutica do Sujeito, com a Ontologia[7]
proposta por Heidegger em Ser e Tempo (1989), utilizada para definir o Ser de
entidades – seus significados, modificações e derivações - que podem ser
estudadas com precisão demonstrativa ao se usar o método fenomenológico[8].
A maiêutica ontológica deve começar
ao sermos iniciados e assujeitados, em instituições de ensino superior, à
disciplina psicológica, suas práticas discursivas e não discursivas, e ao lembrarmos
de que é necessário sempre que essa seja recolocada e concebida dentro de uma genealogia[9].
O conhecimento psicológico não surge da observação e inferência de fenômenos a
priori naturais ao organismo, indivíduo ou sujeito. Este resulta da
institucionalização de determinadas tecnologias e discursos que se inserem nos
atuais regimes de verdade, portanto resultam de um momento sócio-histórico-cultural
particular.
Ao não considerar, ou não nos
redobrarmos sobre essa historicidade, estaremos nos alienando de uma prática
que deveria olhar para o mundo dos entes, neste caso o Outro, em seu constante
processo de vir-a-ser – entendido aqui como existindo, ou o existir -. O
resultado disso é um pensamento disjuntivo do Ser-aí-no-mundo com se esse fosse
a res extensa, um objeto a ser apreendido por um conhecimento inserido no marco
do pensamento técnico-calculante. Consequentemente, esse pensamento leva ao distanciamento,
assujeitamento técnico e institucionalização do outro que se encontra em busca
de uma intervenção clínica baseada no cuidado do Outro e não na objetificação, redução,
e conseguinte normatização, do si.
Esse cuidado – Sorge[10]
- se refere à possibilidade de vir a se compreender como um Ser-aí-no-mundo que
não se encerra em si mesmo, mas que está, desde o início, envolvido num
contexto relacional, ou seja que este é ser-com os outros entes, que é co-participe
de uma experiência coletiva. Ao vir a se conceber como um Ser-aí-no-mundo e ser-com
os outros, o Outro sob cuidado clínico percebe o privilégio de ser essa
abertura de sentido e a responsabilidade, que implica numa conseqüência ética,
de co-pertencer ao mundo, ou seja, de sempre estar implicado no existir
daqueles que o cercam. Esse privilégio e responsabilidade levam-no a tornar-se “aquele
que cuida, que vela, como horizonte de aparecimento, para que as coisas possam
realizar suas múltiplas possibilidades de ser” (Sá & Rodrigues, 2004, p. 40),
ou como disse Heidegger com pesados subtons biográficos católicos, tornar-se o pastor
do ser.
Mas antes que o/a psicólogo/a ou
cuidador/a possa oferecer o cuidado que permita ao outro cuidar-se, o/a próprio/a
cuidador/a precisa redobrar-se sobre si, em uma autêntica maiêutica ontológica estabelecida
consigo, e ir ao encontro de Ser-aí-no-mundo com o objetivo de evitar uma
postura opressora de poder no setting clínico e perceber-se como cuidador. Isso
pode ser feito através da ascese[11],
processo constituinte das tecnologias de si, ou os cuidados de si, como
propostos por Foucault.
Ao engajar-se nesse cuidado o/a futuro/a profissional passaria por exercícios
espirituais de transformação de si, ou seja:
“práticas reflexivas e voluntárias através das quais os homens não só
estabelecem regras de conduta, mas pelas quais buscam transformar-se,
transformar-se em seus seres singulares, e fazer de suas vidas uma obra que
contém determinados valores estéticos e que vai de encontro a determinados critérios
estilísticos” (Foucault, 1992, p. 10-11 - minha tradução).
Para que essa transformação
ocorra, o cuidador/a deve engajar-se em uma série de exercícios de ascese, onde
o dizer-verdadeiro se constituirá como maneira de ser do sujeito, ou seja como
metafísica da existência – ontologia -, permitindo que esse sujeito se
encarregue de conhecer o ser de sua existência, vindo a desvelar seu Ser-aí-no-mundo.
Como dito anteriormente, o desvelar
do Ser-aí-no-mundo e ser-com- os outros, tem como corolário a tomada de uma
postura ética. Esta ocorre devido ao fato de que quando nos tornamos nosso Ser-aí-no-mundo,
experimentamos a nós mesmos como abertura de possibilidades, o que nos leva a
uma ausência de familiaridades e certezas, gerando insegurança e angústia.
Assim somos retirados da impessoalidade, o modo de ser em que “tomamos as referências
como já dadas, em que somos como se deve ser, sentindo-nos familiarizados e seguros”
(Sá & Rodrigues, 2004, p.43). Ao sermos retirados da impessoalidade percebemos nossa
facticidade, em outras palavras, percebemos que estamos em aberto, em jogo no
tempo, que não possuímos substrato metafísico algum e que essa abertura cessa
somente na morte, quando todas as possibilidades cessam. Essa postura de
abertura e facticidade também nos abrirá um novo horizonte para além da perda
de referenciais: o poder de nos apropriarmos de nossas possibilidades
singulares. A esse poder Heidegger chamará de autenticidade, e esta nos
permitirá reconhecer a ilusão e provisoriedade de nossas identificações, permitindo-nos
a apropriação de outras possibilidades e a construção de novas identidades,
estabelecendo outras formas de lidar com o mundo e com os outros (Sá &
Rodrigues, 2004). Isso nos tornará livres para Ser-aí-no-mundo, implicando sermos
totalmente responsáveis por como nos faremos nesse mundo.
Chegar, em uma maiêutica ontológica,
à postura de autenticidade pode nos libertar dos preceitos supralógicos que governam a psicologia clínica. Ao
falar de supralógicos nos referimos a todo aquele conjunto de práticas
discursivas, não discursivas e assujeitamentos que por trás da suposta
objetividade das discursos científicos não é nada mais do que uma coleção de
regras e preceitos - que constituem a moral – institucionalizados, portanto
históricos e não imanentes.
Assim a maiêutica ontológica, como
modalidade de cuidado de si, nos permite ser-com- a clínica para além da
psicologia clínica como disciplina. No entanto essa maiêutica deve ser infindável
e constante ao longo do tempo, pois o empreender consciente da própria
ontologia pode ter um começo, mas jamais terá um fim já que o Ser-aí-no-mundo é
estar lançado, é ser possibilidade de desvelamento, é tempo em si; é angústia
de se cuidar e permitir ao outro, em seu cuidado, cuidar-se
para além do que o regime disciplinar impõe. Por isso que a maiêutica ontológica,
como modalidade do cuidado de si, se insere e se enriquece nesta última reflexão
sobre as artes de si:
“Por que agonística? Por que arte da luta? Porque não há descanso nos
exercícios de sermos livres. Não podemos descansar, acreditando numa vitória
final da liberdade. Assim como não podemos entregar a nenhum outro nossa
liberdade: o trabalho que o indivíduo deve exercer sobre si, a ascese necessária,
tem a forma de um combate a ser sustentado, de uma vitória a ser conquistada...
E, constituindo-se ao mesmo tempo como sujeito de conhecimento verdadeiro e
como sujeito de ação ética, este oferece, como correlato de si mesmo, um mundo
que é praticado como prova: é preciso liberdade para existir ética: “A
liberdade é a condição ontológica da ética”. A “arte de bem viver” na liberdade
ética deixa o mundo igualmente mais belo. Objetivo estético da ética: fazer de
si uma obra artística, estilizar e embelezar a vida. Não é, pois, isso o que
Foucault tentou: devolver as forças às éticas antigas para nos interrogar e
interrogar o nosso presente?: “Eis o que tentei reconstituir: a formação e o
desenvolvimento de uma prática de si que tem como objetivo constituir a si
mesmo como o artesão da beleza de sua própria vida” (Sousa Filho, 2009, p.8)
Em última análise e num registro lírico,
qual é então o objetivo da maiêutica ontológica senão nos tornarmos os Bertoldos
de Michelangelos[12]?
[1]
Paradigma como definido por Thomas Khun, ou seja, um conjunto abrangente de
crenças e premissas que resultam em determinadas práticas e numa visão de mundo
científica de uma determinada época.
[2] Aristótles
concebe a techné como forma de
conhecimento que é inerentemente dirigida à ação e é inerentemente produtiva. A
techné se dedica a analisar o que
deveria ser feito no mundo para aumentar a felicidade humana. As fontes de techné são múltiplas. Elas requerem uma
determinada experimentação aplicada ao mundo para que se possa dizer “o que
deve ser feito”. A techné é um modo de saber e agir em si.
[3] Como
definida por Foucault, refere-se a um mecanismo de poder que regula o
comportamento de indivíduos em um corpo social.
[4] O positivismo limita-se ao
conhecimento da experiência imediata, pura, sensível, como já fizera o
empirismo. Daí sua pobreza filosófica, mas também o seu maior valor como descrição
e análise objetiva da experiência - através da história e da ciência - com
respeito ao idealismo, que alterava a experiência, a ciência e a história. Dada
essa objetividade da ciência e da história do pensamento positivista,
compreende-se porque elas são fecundas no campo prático, técnico, aplicado. A
Psicologia Experimental de W. Wundt, geralmente concebida como a primeira
sistematização da psicologia como disciplina, se insere nesse regime.
[5] Ser-aí-no-mundo
é a tradução do termo Dasein cunhado
por Heidegger que é apresentado da seguinte maneira por Sá e Rodrigues (2004): “
Apenas o homem é o ente cujo ser, ou sentido, está sempre em jogo na sua existência.
Ao Dasein, Heidegger confere um
privilégio, que é exatamente o de ser abertura de sentido, ser-no-mundo, condição
de possibilidade para o que é venha à luz.
[6] Por meio de questões simples,
inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias
complexas. A maiêutica baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente
de todo ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas
propostas de forma perspicaz. A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum
- "conhece-te a ti mesmo" - põe o Homem na procura das
verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude.
[7]
Ontologia compreendida como metafísica da existência que se encarrega de
descobrir a constituição do ser da existência. A ontologia se refere então as
condições da possibilidade das existências ou ao ser mesmo em sua condição de
abertura originária (Heidegger, 1973).
[8] Método
fenomenológico como utilizado por
Heidegger se refere a uma investigação que busca a essência inerente da aparência.
Vale ressaltar que o termo aparência assume duas concepções simetricamente
opostas: 1) ato de ocultar a realidade; 2) manifestação ou revelação da mesma
realidade. Pelo segundo significado, a aparência é o que manifesta ou revela a
própria realidade, de modo que esta encontra na realidade a sua verdade, a sua
revelação. Aparência é qualquer coisa de que se tem consciência. Qualquer coisa
que apareça à consciência é uma área legítima da investigação filosófica. Além
do mais, aparência é uma manifestação da essência daquilo de que é a aparência.
[9] O
conceito de genealogia é um desenvolvimento posterior ao conceito de
arqueologia. A diferença entre ambos é que “a arqueologia pretende alcançar um modo
de descrição (liberado de toda ‘sujeição antropológica’) dos regimes de saber
em domínios determinados e segundo um corte histórico relativamente breve; a
genealogia tenta, recorrendo à noção de ‘relações de poder’, o que a
arqueologia deveria contentar-se em descrever”. Enquanto a arqueologia
(Ser-Saber), procurou analisar as gêneses e as transformações dos saberes no
campo das ciências humanas, a genealogia (Poder-Saber) procurava analisar o
surgimento dos saberes, que se dá a partir de “condições de possibilidade
externas aos próprios saberes, ou melhor, que, imanentes a eles – pois não se
trata de considerá-los como efeito ou resultante –, os situam como elementos de
um dispositivo de natureza essencialmente estratégica”. O que Foucault quer
mostrar é que não existem sociedades livres de relações de poder. Os indivíduos
são o resultado imediato dessas relações de poder (Danner, F. 2009).
[10] Com o termo Cuidado (Sorge),
Heidegger indica o sentimento de cuidado e preocupação que cada um de nós
possui com relação a sua própria existência.
[11]
Ascese "é
o que permite que o dizer-verdadeiro - dizer-verdadeiro endereçado ao sujeito,
dizer-verdadeiro que o sujeito endereça também a si mesmo - constitua-se como
maneira de ser do sujeito. A áskesis faz do dizer-verdadeiro um modo de
ser do sujeito" (Foucault, 2001, p.312).
[12] Bertoldo
di Giovanni: (1420 -1491), zelador e curador da coleção de arte de Lorenzo di Médici
e professor de escultura de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) proeminente
artista do alto renascimento.
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